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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Texto para o teste de 23/08/2010

Você já ouviu falar do Negrinho do Pastoreio? O que sabe sobre ele?
Uma das mais conhecidas lendas do folclore brasileiro, principalmente no sul
do Brasil, é a do Negrinho do Pastoreio.
Existem muitas versöes para ela, inclusive cantigas. E uma história antiga,
que mostra os sofrimentos dos escravos. Até hoje, para algumas pessoas,
acender uma vela para o Negrinho ajuda a encontrar o que se perdeu.

O N E G R I N H O D O P A S T O R E I O
Era vez um estancieiro muito rico, mas egoísta e mau, que não dava esmola aos pobres, nem ajudava a ninguém. Tinha um filho sardento, feio e perverso, e um escravo, ainda menino, preto como carvão, bonitinho e bondoso, a quem todos chamavam de Negrinho.
O escravo não tinha nome nem padrinho; por isso, se dizia afilhado de Nossa Senhora, que é a madrinha dos que não a têm. Mal raiava o dia, o Negrinho montava um cavalo baio e saía para pastorear o rebanho do seu senhor. Trabalhava o dia todo, e quando voltava, à noite, para casa, ainda tinha de sofrer as maldades do filho do estancieiro.
Certo dia, um vizinho disse que o seu cavalo era mais veloz do que o baio do estancieiro e o desafiou para uma corrida. Apostaram uma grande quantia de dinheiro. O estancieiro mandou que o Negrinho montasse o seu cavalo. Mas, quase no fim da corrida, quando já estava na frente, o baio se espantou e o outro cavalo venceu.
O estancieiro ficou indignado por ter perdido a aposta e pôs toda a culpa no Negrinho. Chegando em casa, deu no escravo uma surra de chicote até ver o sangue escorrer. E no dia seguinte, pela madrugada, ordenou que ele fosse pastorear trinta cavalos, durante trinta dias, num lugar muito distante e deserto. Lá chegando, cheio de dores pelo corpo, o escravo começou a chorar, enquanto os cavalos pastavam. Veio a noite escura, apareceram as corujas, e o Negrinho ficou tremendo de pavor. Mas, de repente, pensou na sua madrinha, Nossa Senhora, e então sossegou e dormiu.
Durante a noite, os cavalos se assustaram e fugiram, espalhando-se pelo campo. O Negrinho acordou com o barulho, mas nada pôde fazer, porque a cerração era muito forte. Apareceu, nessa ocasião, o filho do estancieiro que, maldosamente, foi contar ao pai que o Negrinho tinha deixado, de propósito, os cavalos fugirem.
O estancieiro mandou surrar, novamente, o escravo. E, quando já era noite fechada, ordenou-lhe que fosse procurar os cavalos perdidos. Gemendo e chorando, o Negrinho pensou na sua madrinha, Nossa Senhora, e foi ao oratório da casa, apanhou um coto de vela, que estava acesso diante da imagem, e saiu pelo campo.
Por onde o Negrinho passava a vela ia pingando cera no chão e, de cada pingo, nascia uma nova luz. Em breve, havia tantas luzes que o campo ficou claro como o dia. Os galos começaram a cantar e, então, os cavalos foram aparecendo, um por um. O Negrinho montou no baio e tocou os cavalos até o lugar que o senhor lhe marcara.
Gemendo de dores, o Negrinho deitou-se. Neste momento, todas as luzes se apagaram. Morto de cansaço, ele dormiu e sonhou com a Virgem, sua madrinha. Mas, pela madrugada, o filho perverso do estancieiro apareceu, enxotou os cavalos e foi dizer ao pai que o Negrinho tinha feito isso para se vingar.
O estancieiro ficou furioso e mandou surrar o Negrinho até que suas carnes ficassem retalhadas e seu sangue escorresse. A ordem foi cumprida e o pequeno escravo, não podendo suportar tanta crueldade, chamou por Nossa Senhora, soltou um suspiro e pareceu morrer.
Como já era noite, para não gastar enxada fazendo cova, o estancieiro mandou atirar o corpo do Negrinho na panela de um formigueiro, para que as formigas lhe devorassem a carne e os ossos. E assanhou bastante as formigas. Quando estas ficaram bem enraivecidas, começaram a comer o corpo do escravo. O estancieiro, então, foi embora, sem olhar para trás.
No dia seguinte, o senhor voltou ao formigueiro para ver o que restava do corpo de sua vítima. Qual não foi o seu espanto quando viu, de pé, sobre o formigueiro, vivo e risonho, o Negrinho, tendo ao lado, cheia de luz, Nossa Senhora, sua madrinha! Perto, estava o cavalo baio e o rebanho de trinta animais. O Negrinho pulou, então, sobre o baio, beijou a mão de Nossa Senhora, e tocou o rebanho, a galope.
Correu pela vizinhança a triste notícia da morte horrível do escravo, devorado na panela de um formigueiro. Mas, pouco, depois, todo o mundo começou a comentar um novo milagre. Muita gente vira, à noite, pela estrada, um rebanho tocado por um negrinho montado num cavalo baio.
E, daí por diante, quando qualquer cristão perdia alguma coisa e rezava, o Negrinho saía à sua procura. Mas só entregava o objeto a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava ao altar de sua madrinha, a Virgem Nossa Senhora.

THEOBALDO MIRANDA SANTOS.
Lendas e mitos do Brasil. 11. Ed. São Paulo: Nacional, 1991.

GLOSSÁRIO:
Estancieiro: dono da estância, da fazenda.
Pastorear: ato de conduzir, vigiar o gado no pasto.
Cerração: nevoeiro espesso.
Coto: resto da vela.
Panela (de um formigueiro): local onde a formiga rainha põe os ovos.
A galope: o modo de andar mais rápido do animal

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